terça-feira, abril 05, 2011

Bons ventos os trazem

O confronto entre o XI com Álcool e o IPM, válido pela 2ª rodada do Csapão Apertura 2011, na manhã deste domingo, 03 de abril, apresentava um simbologia única. As equipes se encontrariam pela sétima vez em suas histórias, número que, em algumas culturas, marca a totalidade. O retrospecto de três vitórias para cada agremiação poderia ser alterado e invertida uma vantagem na liderança desse embate que, desde o início, pertenceu aos representantes da “Matilha Prateada”.

Isso aconteceria se os hexacampeões do principal torneio interclubes da Escola de Governo da Fundação João Pinheiro vencessem e completassem três triunfos consecutivos nessa partida. Nas duas apresentações anteriores, os ‘orange-noir’ haviam levado a melhor no Clausura 2009 ao vencerem por 3 a 1 e no Apertura 2010 ao, novamente, derrotarem seus calouros por 3 a 2.

A preocupação dos Impróprios fora revelada ainda na sexta-feira em um encontro fortuito ocorrido na Cidade Administrativa Presidente Tancredo Neves. Na ocasião, Pilha revelou a dificuldade para somar jogadores visando o duelo do final de semana, enquanto Leonardo confirmava a presença da equipe principal com um número razoável de suplentes.

Mas esses prognósticos se modificaram nos dois dias seguintes por inúmeras razões, seja por problemas médicos, viagens de última hora ou até ausências injustificadas. Uma das estrelas da estreia veterana, RC, sentiu a intensificação das cólicas renais que vinham lhe atormentando desde o mês de outubro e teve de se dirigir a um hospital de sua cidade natal a fim de aplacar o incômodo sofrido. Com isso, o especialista recomendou-lhe a realização de ultrassom para verificar a gravidade do mal que lhe acomete e um repouso forçado de alguns dias.

Diego Vettori, outro dos nomes da primeira rodada, teve de se deslocar de Belo Horizonte de última hora e também não pode oferecer sua eficaz saída de bola à equipe. Já Ramsés, ausente contra os Abutres, era nome certo neste domingo, mas não compareceu novamente e, até o momento, a capitania da esquadra não soube os motivos desse desaparecimento. Por fim, mais um casamento retirou um jogador onzimoalcooliano de um cotejo. Felipão, como havia informado com antecedência, não pode comparecer e abriu uma dúvida sobre quem seria o responsável por parar os intensos ataques adversários.

Do lado calouro, Melo, que se dirigiria à Divinópolis no fim de semana por motivos familiares, resolveu permanecer na capital e reforçar sua tradicional equipe no clássico matutino. Rodolfo, que não teria condições de despertar a tempo se retornasse à sua casa em município da Grande BH, após a comemoração de mais um aniversário, passou a noite em casa de parentes nas imediações da Tropical Academia e também trouxe mais um alívio aos Impróprios. O único desfalque certo foi Djanis que compareceu para acompanhar a partida, mas, vítima de um estiramento muscular, não reuniu condições de entrar nas quatro linhas.

Assim, o IPM levou à quadra praticamente sua principal força e o XI com Álcool testava uma formação alternativa, contando inclusive com a estreia do ex-Galáticos, Victor Hugo. De um lado, os azuis do XVIII Csap contavam com Felipe Michel, Pilha, Melo, Duba e Mauro. Do outro, Adriano, sempre chamado a salvar a equipe nos momentos mais inglórios, foi o arqueiro da vez, auxiliado pelo novato Victor Hugo atuando de fixo, Bruninho e Persa nas alas e Carlão como pivô.

A formação ‘orange-noir’ era a mais ofensiva apresentada desde a eliminação no Apertura 2009, quando foram derrotados por 11 a 2 pelo XoXota na última rodada da primeira fase daquele torneio. Coincidentemente, estavam presentes naquela data Adriano, Bruninho, Persa e Leonardo. Além deles, apenas Felipão completava o escrete naquela partida.

Postados dessa maneira, as equipes começaram o jogo sem a predominância da posse de bola por nenhum dos disputantes, mas com a rapidez que caracterizava os estilos de atuar daqueles que estavam em quadra. As subidas com os alas do lado veterano eram uma arma super perigosa e, em alguns momentos, permitiram chances em que três jogadores avançassem simultaneamente contra a marcação de apenas um adversário.

Converter a superioridade em gols parecia ser apenas questão de tempo, principalmente, quando se via que Bruninho e Persa apresentavam suas melhores performances em pelo menos quatro anos. A torcida somente poderia esperar bons presságios ao observarem esse desempenho e contar os minutos para que sua equipe abrisse o marcador.

No entanto, a mesma vantagem que lhes era proporcionada por contar com um poderia ofensivo também lhes privava de um sistema defensivo mais organizado. Isso, os ‘nerancieri’ puderam observar em poucos minutos. Diante deles, estava uma equipe que explorava bastante os chutes de longa distância, mas que não desprezava as oportunidades para sair em ágeis contra-ataques.

Não foi na primeira oportunidade, mas não demorou para que a “Matilha Prateada” avançasse com três jogadores contra um defensor ónzimo e deixasse a cargo de Duba o disparo cruzado da entrada da área pelo lado esquerdo de seu ataque. O toque na saída de Adriano tirou do guarda-metas qualquer possibilidade de evitar o tento. 1 a 0.

Diferentemente de outras ocasiões, os hexacampeões não se abateram nem se desesperaram com o início ruim e retornaram ao jogo com calma para tentar reverter o placar. O time buscou executar as mesmas articulações apresentadas minutos antes e que, por alguns infortúnios, não haviam sido concretizadas em gol. Subiram como haviam feito ao ataque e criaram novas chances, mas novamente foram surpreendidos pelos avanços oponentes. Outra falha de marcação na hora dos alas fecharem a defesa proporcionou as condições para que Pilha recebesse na entrada da área e, de frente para o gol, repetisse a finalização de seu companheiro, tocando na saída de Adriano. 2 a 0.

A partir daí, os laranja e negro começaram a de dispersar em quadra e não conseguir concatenar suas tramas ofensivas sem comprometer a defesa. Mesmo a referência na frente perdera sua resistência e Carlão voltava para auxiliar na marcação, o que completou o temporário desmanche tático.

Orientado pelo goleiro de sua esquadra, Leonardo escolheu um dos seus companheiros para descansar por alguns minutos e tentar mudar a cara da partida. Mas, mal o ala/pivô deu a saída para tentar reverter a desvantagem e a equipe perdeu a posse de bola. As avenidas laterais eram um porto seguro para os adversários subirem e descerem a hora que quisessem. A marginal direita, inclusive, foi utilizado por Melo, dono de violento chute, que utilizou desse recurso para finalizar no canto direito do guarda-redes rival e ampliar o triunfo para 3 a 0.

A derrota para o IPM, especialmente, por aquele placar poderia significar a eliminação precoce do XI com Álcool na competição, de uma forma como nunca ocorrera antes. O pior nesse cenário era que, ainda que estivesse sendo goleada, ela não apresentava um desempenho que pudesse ser considerado totalmente insatisfatório, mas não conseguiu estruturar sua defesa a ponto de impedir as estocadas inimigas.

Como ressaltado, a sobriedade ainda não era artigo ausente no comportamento veterano e o único caminho encontrado foi voltar a atacar, agora com um cuidado maior com os contra-ataques. Subindo com dois a três homens como vinha fazendo, os ‘orange-noir’ começaram a vencer um obstáculo que lhe atormentava há temporadas, investir com jogadores abertos no campo ofensivo e fazê-lo com visão dos companheiros que se aproximavam.

Com esse plano de jogo, o quinteto que vinha perdendo a partida saiu em busca da reação. Em uma bola passada para a intermediária do ataque, Leonardo recebeu da direita e, sem pestanejar, finalizou de perna direita dali mesmo, no canto esquerdo de Felipe Michel, que não teve como chegar para tentar a defesa. 3 a 1.

Logo em seguida, o tempo técnico pedido pelos adversários, ressentidos fisicamente do intenso desgaste físico que a partida lhes exigia, demonstrou aos ‘orange-noir’ que o caminho era mesmo aquele. A confiança que carregavam desde o apito inicial começava a ser retribuída com a eficácia dos lances insistidos desde o primeiro minuto.

No retorno da pequena parada, a blitz onzimoalcooliana persistiu e, especialmente, pela ótima atuação de Carlão, um pivô na essência da função. Marcá-lo era uma missão extenuante e um oponente parecia não ser o suficiente para parar o ‘Gigante’. Abusando dessa vantagem comparativa, ele girava, desvencilhando-se do marcador, de um lado ou de outro. E se chegasse na bola antes do adversário não havia como tomar-lhe a frente.

A maneira que os Impróprios encontravam para obstruir o ímpeto rival foi, por vezes, cometer faltas e deter a velocidade impressionante com que se viam apertados. O histórico de cobranças de falta certeiras de Persa não parecia ser um temor suficiente para restringir tais ações. Talvez a longevidade da última vez em que o lendário jogador havia acertado um tiro de bola parada não causasse mesmo uma preocupação tão grande. Mas, indiferente a toda essa descrença, o ala se posicionou para a cobrança da entrada da área, com quase todo o quinteto adversário na linha do gol, e chutou. Chutou no único lugar entre a barreira e o defensor que protegia o canto esquerdo, para marcar o segundo tento e colocar fogo na disputa.

Daí em diante, no primeiro tempo, não houve outro que não os ‘orange-noir’ a terem a posse de bola e ‘agredirem’ o oponente em busca do empate. A impressão que os espectadores tinham é que, em hora alguma, eles perceberam terem tomado três gols na primeira metade da etapa inicial. Esse ‘doping’ psicológico somente contribuía para que se sucedessem ataques seguidos, sem o receio incessante de sofrer um revés.

As descidas pelos flancos que funcionaram bem no Apertura 2010 e um pouco no Clausura do mesmo ano, entre Lott e Leonardo, dessa vez surgiram com Persa ou Bruninho e Carlão. E num lance assim, Persa desceu até a linha de fundo e cruzou para o pivô no centro da área. O marcador do ‘Gigante’ passou lotado na jogada e, num aguardo à la Walter Montillo, ele esperou o momento exato de finalizar e pegou com perfeição na bola para colocá-lo no canto superior esquerdo das redes. Empate em 3 a 3, que marcou o fim do primeiro tempo.

Àquela altura, parecia que a aura que tomara conta da equipe nos minutos iniciais do segundo tempo da partida contra a Esquadrilha Abutre, uma semana antes, tivera lugar na mesma quadra.

O retorno para o segundo tempo contou com a formação que terminara os minutos finais da primeira metade, mas com um espírito diferente daquele período. O domínio da partida esteve com o XI com Álcool inteiramente nos primeiros minutos e, em profusão, começaram a surgir oportunidades. As tabelas entre Bruninho e Carlão passaram a ser uma alternativa para desestruturar a marcação rival, ainda que a cada momento o pivô passasse a ser acompanhado mais de perto por oponentes. Num desses momentos, Bruninho chegou à ponta esquerda e o Gigante não conseguiu acompanhar para receber o passe. Sem essa opção, Bruninho arriscou o chute, sem nenhum ângulo e nenhuma possibilidade de acertá-lo a gol. Quase sem possiblidade, porque, de uma foram ‘espírita’, a bola fez uma curva imponderável e acertou a trave direita, voltando para acertar as redes do outro lado. O imponderável acontecia e propiciava a virada no marcador. 4 a 3 XI com Álcool.

A magia conduzia as tramas dos hexacampeões, permitindo que nada pudesse detê-los. Com a vantagem no marcador, mudaram-se um pouco os nomes e as jogadas que brilhariam e fariam o espetáculo. Na retaguarda da equipe, Victor Hugo desempenhava em parceira com Persa uma marcação consistente e que bloqueava de forma quase sobrenatural os avanços da ‘Matilha’. Não foram poucas as investidas Impróprias, mas as retomadas de bola foram exitosas em todas elas. E elas levavam a contra-ataques perigosos e rápidos o suficiente para trazer dor de cabeça aos rivais. Carlão protegia as jogadas como nenhum outro, em perfeita forma física, é capaz de fazer no Csap e Leonardo abria em ambas as alas para receber os passes. Deu certo quando o morador de Divinópolis recebeu na esquerda e tocou para o ala/pivô do outro lado. Leonardo, sem ajeitar, só finalizou no canto esquerdo de Felipe Michel e ampliou a vantagem. 5 a 3.

Inacreditável a virada que se via na Quadra 2 da Tropical Academia, sair de 0 a 3 para 5 a 3. Para segurar o resultado seria necessário um esforço físico supremo, algo que começava a ser sentido, ainda mais com apenas um reserva para o revezamento. Disso, portanto, o IPM aproveitaria para buscar diminuir a desvantagem e tentar alcançar pelo menos o empate.

Não demorou, portanto, para que os erros cometidos no início da partida ocorressem, com a subida simultânea de três ‘nerancieri’ e a demora no retorno para a marcação. O autor do segundo gol, Pilha, mostrou a homogeneidade de sua equipe e executou um disparo como autor do terceiro, Melo. O chute forte, cruzado, ala esquerda passou entre a trave direita de Adriano e o próprio arqueiro antes de estufar as redes para fazer o 4º gol Impróprio.

O filme do domingo anterior passou nas cabeças de todos aqueles que estiveram uma semana antes e que vivenciaram a virada sofrida para os Abutres depois de estarem vencendo pelos mesmos 5 a 3. Cogitou-se trancar o time nos três minutos finais e manter a posse da bola para não serem atacados com grande risco, mas essa hipótese foi refutada para não trazer o adversário para o campo de defesa do XI.

Então, alternaram-se chances para as duas equipes, mas ocorreu, inclusive, a possibilidade de ampliar o marcador e afastar de vez o receio de sofrer o empate. E o tempo correu rápido, tão rápido que não demorou para soar o apito final e o XI com Álcool alcançar seus três primeiros pontos na vitória por 5 a 4.

O futebol-arte, título da postagem anterior sobre a derrota por 6 a 5 para a Esquadrilha, assentara pé na equipe, mesmo com mudanças de padrão tático e de peças. Pelo desempenho observado nas duas primeiras partidas, os torcedores podem esperar mais uma ótima apresentação daqui a duas semanas, domingo, 17 de abril, às 12 horas, contra o Black Jack. Como cada jogo é único, deve-se esperar para saber o resultado final, mas com as voltas de RC, Diego e Ramsés, o slogan mais ouvido daqui para a frente será “Bons ventos os trazem”.

Formações:

XI com Álcool: Adriano, Victor Hugo, Persa, Bruninho e Carlão. Entrou: Leonardo.
IPM: Felipe Michel, Pilha, Melo, Duba e Mauro. Entraram: Toninho e Rodolfo. Não entrou: Djanis.

Gols:
XI com Álcool: Leonardo (2), Persa, Carlão, Bruninho.
IPM: Duba, Pilha (2) e Melo.

Siga-nos no Twitter: @XIcomAlcool