domingo, outubro 04, 2009

04 de outubro: O dia em que eles retornaram

O inacreditável, o impressionante, o sobrenatural: histórias que os gramados não contam. O título dessa seção da Placar mostra o que aconteceu às 11 horas do domingo, 04 de outubro de 2009, na Tropical Academia, palco da atual edição do Clausura. A atração principal na Quadra 01 marcava o encontro do Impróprios para Menores (IPM) com o AtecubanosTM11 em um jogo considerado de seis pontos por ambos.

A Matilha Prateada começou a elevar o clima de mistério nos torcedores ao não apresentar, com antecedência, sua equipe completa. Minutos antes do início do certame, ela contava com apenas cinco atletas, o mínimo necessário para dar início aos quarenta minutos de bola rolando. Mais surpreendente ainda era a ausência de nomes de peso, como Melo e Djanis, alguns dos atletas que, segundo a própria dirigência da equipe, estariam chegando mais tarde devido à noite um pouco mais prolongada na capital das alterosas.

Os orange-noir também não pareciam tão preparados para um jogo que poderia representar, praticamente, a 'pá-de-cal' em suas esperanças de disputar novamente as quartas-de-final. A última presença deles nessa fase aconteceu no Clausura 2008, quando foram eliminados pelos atuais bicampeões do Bento XVI.

O pivô Leonardo relatou, ao final da partida, as dificuldades enfrentadas para verificar se haveria quórum para entrar em quadra. Em sua viagem pelo 4111, ele afirma ter recebido respostas de seis atletas de que estariam em Oliveira e Divinópolis, municípios do Centro-Oeste mineiro, por terem acompanhado, na última noite, o Concurso Miss Minas Gerais na cidade-sede do Guarani. Nessa data, uma representante do XII Csap, Letícia Torres, namorada do pivô Camillo Fraga, representou a Grande BH na eleição da mais bela mulher do Estado.

Com isso, o AtecubanosTM11 teria que contar nos dedos para ter a certeza de que contavam com número suficiente para não serem eliminados da competição. E a surpresa que permitiu à aritmética não ser desprezada foi a presença do veterano, mas ausente no primeiro semestre, Ângelo Minardi, após um ano na capital francesa na Academia. A presença do TGV orange-noir, assim conhecido pelo impacto que provoca por onde passa, somada à do arqueiro Hugo de Abreu, do fixo Adriano, do fixo/ala Édson Silveira e do mesmo Leonardo deu condições de jogo à equipe.

O retrospecto do XI com Álcool, predecessor do AtecubanosTM11, como informado na matéria Que rufem os tambores, não trazia grande perspectiva aos egressos, afinal antes do confronto de hoje haviam vencido uma partida e perdido outras três. E não era somente isso, pois o IPM, embora em campanha mais modesta neste Clausura, fora vice-campeão do Apertura 2009.

Quando a bola enfim rolou, pode-se perceber que se estava diante de um clássico dos maiores do Csap, daqueles em que o público não tem um minuto para se distrair e jogar conversa fora com o vizinho ao lado. Numa intensidade há muito não vista do lado veterano e que se sustentava taticamente na marcação meia-quadra. Mas não só nela, como também na inovação implementada com o adiantamento de Ângelo para exercer a função de pivô e Édson atuar como ala, além do recuo de Leonardo para se movimentar também como ala. Uma 'revolução' tática em mais um time laranja, assim como era a Seleção Holandesa de Rinus Michels.

A alteração, ao que se viu em quadra, surtiu efeito desde os primeiros minutos com os contra-ataques iniciados em defesas de Hugo para a movimentação da referência de ataque, o pivô. Ângelo, que chegou ontem do Velho Continente, numa dessas suas investidas, recebeu passe de Édson pelo lado esquerdo e desferiu chute cruzado para abrir o placar. 1 a 0.

A vantagem no marcador foi fruto do volume de jogo apresentado, com maior impetuosidade do que os rivais, mas não sem sofrer constantes contra-golpes impróprios. Os adversários pareciam máquinas de finalizações, tantos foram os chutes tentados contra o gol atecubanense-ónzimo sem, na maior parte das vezes, exigir a atuação do goleiro Hugo. Goleiro que, com sua experiência de handebol, não comprometeu em nenhum momento sua meta.

A segurança proporcionada pelo sistema defensivo dos veteranos deu condições suficientes para eles retomarem sua busca por um placar mais favorável. Assim, Ângelo avançou e, depois de acertar a trave direita do IPM minutos antes, chutou a gol "com a ignorância que lhe é peculiar" (PERSICHINI, 2007). O arqueiro impróprio ainda defendeu, mas no rebote Leonardo completou por baixo dos braços dele para fazer 2 a 0.

A "tranquilidade" alcançada decorrido esse tempo não ocorria com o AtecubanosTM11 (incluindo XI com Álcool) desde muito tempo em jogos decisivos. O jogo começava a ficar nas mãos dos bicampeões, que faziam uma excepcional apresentação, especialmente do ponto-de-vista tático.

Os Impróprios tentaram mudar a cara do jogo com as entradas do poderoso goleador Djanis (53 gols marcados nos últimos quatro torneios, contando o Clausura 2009) e Mauro, um tanque compatível ao pivô veterano. A estratégia, no entanto, continuava a mesma, chutar de onde fosse possível.

A manhã, contudo, era laranja e os contra-ataques nerancieros mortais. Mais uma vez pela esquerda, os veteranos começaram seu ataque e a bola sobrou para Leonardo na direita. Ele, de lado para a marcação, voltou um pouco a bola, ajeitou com a esquerda e emendou reto e ágil para o gol. O goleiro, que não esperava o chute em seu lado direito, ainda tentou voltar mas nada pode fazer para impedir o terceiro gol. 3 a 0.

E veio o intervalo e a palestra do capitão, sempre em exercício, Persa. Não faltaram orientações para que se mantivesse a mesma postura tática e se focalizasse que aquela vantagem não era garantia de vitória. A partida anterior entre João XXIII e Esquadrilha Abutre apresentara um lição nesse sentido. Os auribrancos venciam por 4 a 2 faltando um minuto para o fim da partida, mas sofreram três tentos e saíram derrotados pela quarta vez na primeira fase.

O Professor, mesmo tendo anunciado seu afastamento das quadras cspianas até o fim do ano, apareceu para reforçar sua tradicional equipe, forçado pela expulsão de Pedro Mou e a contusão de Édson. O representante pradense foi expulso por estar ingerindo bebida alcoólica em quadra, no intervalo. Sobre Mou, Persa disse em sua última edição dos Pergaminhos Persianos

" (...) Pedro (expulso por entrar em quadra com um copo de cerveja, digo, de um líquido de cor amarela, aparentemente cerveja, na mão. Os advogados já preparam defesa baseada na tese de que não houve teste do bafômetro e que o líquido de cor amarela poderia ser qualquer substância, de origem ainda não comprovada. Ao final das análises, constatou-se que se tratava de cerveja sem álcool, o que poderia gerar infração gravíssima interna (ausência de álcool em ingestão de líquido, art. 171, parágrafo único) e não punição por parte da arbitragem. Vamos recorrer.(...)" (PERSICHINI, 2009)


Ressalte-se ainda que o árbitro se dirigiu à Felipe Michel, goleiro do IPM inativo no Clausura 2009 e também organizador do torneio, informando que a conduta do jovem atleta poderia custar ao apitador o escudo da federação que carregava em seu uniforme. Não podendo admitir tal comportamento, excluiu o fixo atecubanense-ónzimo da partida.


A saída de Édson se deveu a dores sentidas no tornozelo esquerdo após dividida em sua própria área.

A volta para a segunda etapa trouxe o mesmo espírito da metade inicial e a persistência da tática executada nos primeiros vinte minutos. A diferença é que, a partir de então, passaram a enfrentar o goleiro-linha, Djanis. A necessidade de converter pelo menos três gols para arrancar um ponto na partida não poderia ser concretizada de forma mais ofensiva.

O bombardeio continuou por toda o segundo tempo e foi sendo rechaçado de todas as formas, em uma partida praticamente perfeita da defesa. Da mesma forma, as arrancadas orange-noir representavam muito perigo para os impróprios e somente não iam sendo definidas em gols graças à atuação exaustiva de Djanis e, em alguns momentos, à trave.

O esforço prateado, no entanto, não foi em vão e, faltando três minutos para o fim do jogo, o placar foi descontado para 3 a 1. E esse gol revigorou os ânimos dos calouros, que partiram em busca dos outros gols que lhe garantiriam mais pontos no Grupo A.

Um minuto e meio depois, o Professor, que já havia recebido o cartão amarelo no fim do primeiro tempo, recebeu o vermelho por falta mais forte em Pilha próximo à linha de fundo.

Nesse período, Adriano, Leonardo e Ângelo tiveram, juntamente com Hugo, que se desdobrar para segurar o placar e dispender suas últimas forças contra o ímpeto adversário. E souberam fazê-lo com precisão, mantendo a bola o máximo possível em seu campo de ataque e afastando-a de sua meta sempre que necessário. Final de jogo. 3 a 1.

A fantástica vitória, virtualmente, classifica a equipe para a fase seguinte. Apenas derrota por elevado número de gols para os XXiitas às 9 horas do dia 17 (daqui a dois domingos) e vitória por elevado número de gols dos Abutres sobre o IPM retiram a vaga da equipe que hoje possui saldo de doze gols a mais do que a mais antiga equipe do Csap.

Os aspectos negativos para a próxima rodada são as suspensões do Professor e de Mou e a contusão sofrida por Persa, possivelmente um estiramento na coxa direita. Além disso, outros jogadores com cartão amarelo poderão ser poupados para as possíveis quartas-de-final.

AtecubanosTM11: Hugo, Adriano, Édson, Leonardo e Ângelo. Entraram: Pedro, Persa e Professor.
Gols: Ângelo e Leonardo (2)

REFERÊNCIAS:

PERSICHINI, Gustavo. Não foi fácil, mas vencemos o IPM - 3 x 1. Lista de discussão onzecomalcool@yahoogrupos.com.br. 04/10/2009.